É isso o que AJ Hinch, comandante do Detroit Tigers, tenta fazer. Uma inversão de conceito fundamental para entender como sua equipe eliminou o Houston Astros, dono da maior hegemonia da MLB no momento.
A atitude mais comum é iniciar o jogo com um abridor, um arremessador de repertório mais vasto e mais resistência para fazer mais da metade da partida. Se possível chegar à sexta ou a sétima, deixando espaço para os relievers (arremessadores de apoio) fazerem o final da partida. Desse modo, o adversário já monta seu ataque em cima desse abridor, procurando a sequência que pode ter mais sucesso.
O que o Detroit Tigers tem feito é colocar um arremessador de apoio para iniciar o jogo. Ele faz apenas uma ou duas entradas, onde sua chance de sucesso é maior (mesmo sendo um arremessador supostamente mais limitado), e depois entra um braço para carregar mais o jogo. Com isso, o abridor começa já com a partida em andamento, e ele inicia sua participação contra o rebatedor que seu técnico quer, não o adversário definiu.
Essa estratégia não foi criada pelos Tigers, mas pelo Tampa Bay Rays em 2018. No entanto, os Rays usavam em situações pontuais, enquanto que o Detroit passou a basear todo seu jogo nisso. Com exceção do excelente Tarik Skubal, os Tigres não têm um abridor propriamente dito. Todos os demais arremessadores são jogadores de apoio, que podem fazer entre uma e três entradas durante a partida, sempre buscando o melhor encaixe para o momento.
Para vencer os Astros, finalista da Liga Americana nas últimas sete temporadas, o Detroit sabia que esse encaixe era fundamental. Skubal teria condição de carregar o time à vitória no jogo 1 (e conseguiu), mas o “caos” – como os próprios Tigers definem seu uso de arremessadores de apoio – teria de segurar os texanos em uma das outras partidas da série melhor de três. E deu certo.
O Detroit até precisou que seu ataque virasse o jogo na oitava entrada, mas o time só estava no jogo porque, em sete etapas, os arremessadores haviam cedido apenas duas corridas. Aí, quando os Astros que tiveram de revezar seus arremessadores de apoio, os Tigres deram o bote e fizeram 5 a 2. Uma vitória da estratégia, que permitiu a um time muito jovem superar a equipe com mais experiência de playoffs da MLB.
O próximo desafio da equipe de Hinch é o Cleveland Guardians. Será um duelo interessante, pois o time do estado de Ohio também faz uso intenso de seus relievers para vencer as partidas.
Serão duelos táticos interessantes entre equipes que se conhecem muito bem. Mas longe de serem a única atração das séries de divisão da pós-temporada. Com o final da fase de wildcard, é a vez das melhores equipes da MLB entrarem na disputa. Além dos Guardians, também chegam New York Yankees, Los Angeles Dodgers e Philadelphia Phillies. Os dois últimos enfrentando grandes rivais no mata-mata, o que nos dá a sensação de duelos muito quentes nesta semana.
Veja abaixo quais são os confrontos, o que esperar deles e a grade de transmissões dos canais ESPN e Disney+.
LIGA AMERICANA
CLEVELAND GUARDIANS (92 vitórias - 69 derrotas) x DETROIT TIGERS (86-76)
Quem passar enfrentará o… vencedor de Yankees x Royals
Na temporada regular: Guardians 7x6
Palpite: Guardians 3x2
Duelo muito interessante. Em relação ao ataque, os Guardians são melhores em todos os aspectos, mas a tendência é que o confronto direto em mata-mata se defina pelos arremessadores. Os Tigers virtualmente não têm rotação, contando com Tarik Skubal como único abridor verdadeiro. Não é um problema neste caso, considerando que o Cleveland teve a pior rotação entre os times classificados aos playoffs, tendo apenas Tanner Bibee e Ben Lively como nomes confiáveis. Assim, os Guardiões também terão de planejar suas partidas para usar intensivamente os relievers.
O Detroit tem a vantagem de dominar melhor essa estratégia, usando jogos sem abridor quase a temporada inteira. No entanto, o Cleveland teve o melhor bullpen de toda a MLB, e conta com um quarteto (Emmanuel Clase, Cade Smith, Erik Sabrowski e Tim Herrin) capaz de silenciar qualquer ataque. Dá para visualizar uma série de placares baixos e muito duelo tático, com a vitória indo para quem errar menos nesse desfile de arremessadores.
NEW YORK YANKEES (94-68) x KANSAS CITY ROYALS (86-76)
Quem passar enfrentará o… vencedor de Guardians x Tigers
Na temporada regular: Yankees 5x2
Palpite: Yankees 3x1
Em teoria, a série mais desigual dessa fase dos playoffs (o que não quer dizer muito, já que três dos quatro confrontos da etapa anterior foram vencidos pelos times de pior campanha). Os Royals têm uma ótima rotação, com os surpreendentes Seth Lugo, Michael Wacha (ambos veteranos que pareciam já ter passado da melhor fase na carreira), Brady Singer e Cole Ragans. Além disso, têm em Bobby Witt Jr, Vinny Pasquantino e Salvador Pérez um trio ofensivo que se complementa bem. Foi suficiente para vencer o Baltimore Orioles em partidas de placar baixo na fase de wildcard, mas parece pouco para parar os Yankees.
Os nova-iorquinos chegam como favoritos destacados à Liga Americana, ainda mais após as eliminações de Astros e Orioles. A rotação tem em Gerrit Cole uma garantia, mas é justo dizer que os demais abridores (Nestor Cortes Jr., Carlos Rodón e Luis Gil) oscilam entre partidas perfeitas e atuações preocupantes. O bullpen tem bons números no geral e pode brilhar se Luke Weaver estiver à altura da responsabilidade de fechar os jogos.
Mas, com essas dúvidas entre os arremessadores, como os Yankees são tão favoritos então? Bem, o ataque é pesado. Aaron Judge foi o melhor jogador da MLB na temporada, Juan Soto formou uma parceria excepcional, e Giancarlo Stanton, Jazz Chisholm Jr., Gleyber Torres e Austin Wells dão profundidade a esse alinhamento ofensivo. O ataque dos nova-iorquino forçará os Royals a jogar sempre no limite, e terá de fazer isso três vezes em cinco jogos. Talvez seja pedir demais.
LIGA NACIONAL
PHILADELPHIA PHILLIES (95-67) x NEW YORK METS (89-73)
Quem passar enfrentará o… vencedor de Dodgers x Padres
Na temporada regular: Phillies 7x6
Palpite: Phillies 3x1
Os Phillies têm um time moldado para competir nos playoffs. A rotação tem quatro ótimos jogadores (Aaron Nola, Zack Wheeler, Christopher Sánchez e Ranger Suárez), o bullpen tem três jogadores confiáveis para as entradas finais (sobretudo Jeff Hoffman) e o ataque tem jogadores explosivos e decisivos, como Bryce Harper, Kyle Schwarber, Trea Turner, Alec Bohm e Nick Castellanos. Essa fórmula levou o Philadelphia às duas últimas finais da Liga Nacional.
Então, o que pode dar errado? Bem, na temporada passada, os Phillies caíram diante do Arizona Diamondbacks porque contaram demais com home runs para ganhar os jogos. Quando os arremessadores adversários conseguiam evitar a bola longa, o ataque sofreu. Mas a principal preocupação do torcedor da Filadélfia é o momento.
Os Mets têm um bom time, com Francisco Lindor sendo candidato a MVP da Liga Nacional (deve ficar em segundo), mas vivem uma fase iluminada. Os nova-iorquinos se classificaram após uma arrancada nos últimos a partir de agosto, conseguindo ainda viradas espetaculares na nona entrada contra o Atlanta Braves para garantir a classificação na temporada regular e o Milwaukee Brewers na série de wildcard. Times que pegam esse tipo de embalo se tornam extremamente perigosos nos playoffs, e os Metropolitanos estão nesse ritmo. Se ainda considerarmos que Phillies x Mets é uma das grandes rivalidades da MLB, esse duelo pode ser mais imprevisível do que a análise fria sugere.
LOS ANGELES DODGERS (98-64) x SAN DIEGO PADRES (93-69)
Quem passar enfrentará o… vencedor de Phillies x Mets
Na temporada regular: Padres 8x5
Palpite: Padres 3x2
Os Dodgers tiveram a melhor campanha da temporada regular, então é natural que sejam vistos como favoritos ao título (é o que as casas de apostas indicam, inclusive). No entanto, o cenário é mais complicado do que parece.
De fato, os angelenos têm um time estelar, sobretudo no ataque. O quarteto Shohei Ohtani, Mookie Betts, Freddie Freeman e Teoscar Hernández é capaz de vencer qualquer jogo. O desempenho cai bastante quando se sai desses quatro, mas esse nem é o principal problema. O desafio dos Dodgers será na rotação, que sofreu com diversas lesões durante todo o ano. Assim, alguns bons nomes estão indisponíveis (Ohtani, Clayton Kershaw e Gavin Stone) e outros ficaram muito tempo no departamento médico e não são certezas absolutas (Yoshinobu Yamamoto e Walker Buehler). Com o confiável Jack Flaherty, Yamamoto em semana inspirada e um uso preciso dos arremessadores de apoio, os Dodgers podem vencer qualquer adversário. Mas é um time com vulnerabilidades.
Para tornar o cenário mais incerto ao Los Angeles, o adversário é o ótimo San Diego Padres. A equipe tem um elenco que parece mais equilibrado no momento, com uma rotação mais estável (mesmo com a perda de Joe Musgrove por lesão), um bullpen com quatro ótimos arremessadores (Tanner Scott, Robert Suárez, Jason Adam e Jeremiah Estrada) e rebatedores decisivos (Manny Machado, Fernando Tatis Jr., Jurickson Profar e Luis Arraez).
Ao longo do ano, o encaixe desse confronto se mostrou favorável aos Padres, e não surpreenderia se essa tendência se mantivesse nos playoffs.
O Semana MLB é um post em forma de newsletter sobre os principais temas (e a programação de TV) da MLB. Toda sexta (vez ou outra atrasa para o sábado) uma nova edição
TRÊS STRIKES
1) Com o final da temporada regular, é possível fazer um balanço de como foi o ano em algumas áreas. Por exemplo, média de público nos estádios. E a MLB teve boas notícias. A liga teve 71,35 milhões de torcedores pagantes em 2.413 jogos, uma média de 29.568. É a maior média de público desde 2017 e o segundo ano seguido com crescimento. Os números foram significativos também pelo fato de os torcedores do Oakland Athletics terem boicotado vários jogos do time devido à mudança da franquia para Las Vegas e o Chicago White Sox ter uma campanha historicamente ruim, jogando os números para baixo. As maiores médias de público foram, pela orgem, Los Angeles Dodgers, Philadelphia Phillies, San Diego Padres, New York Yankees e Atlanta Braves.
2) A audiência de TV também deu bons sinais na temporada regular. A média de espectadores do Sunday Night Baseball da ESPN teve aumento de 6% em relação ao ano passado. As transmissões da Fox e da TBS também cresceram, ainda que de forma mais discreta. Mas os números mais encorajadores nesse aspecto foram no público entre 18 e 34 anos (12% na ESPN, 9% na Fox) e no streaming (14% em minutos vistos e 17% em partidas vistas de cabo a rabo).
3) Terminou também a segunda temporada com relógio de arremessos. E a quantidade de violações caiu 42,6%. Foram 602 neste ano, sendo 465 de arremessadores, 133 de rebatedores e quatro de catchers. No ano passado, o total foi de 1.048. O time que cometeu mais infrações foi o Houston Astros, com 35 e o jogador que deixou o cronômetro zerar mais vezes foi Kyle Finnegan, arremessador do Washington Nationals, com 11. As equipes que mais respeitaram o relógio foram Colorado Rockies, Oakland Athletics e Kansas City Royals, com 10 violações cada.
Fonte do artigo:loteria Santa Catarina